terça-feira, 22 de janeiro de 2013

A Morte é uma serial killer


A Morte é uma serial killer
Autora: Valentina Silva Ferreira
Editora: Estronho, coleção Histórias de Bolso
Ano: 2012
176 páginas

Sinopse: Num futuro próximo, os assassinos em série de todos o mundo, por força de lei, devem ser tratados e cumprir pena na Unidade de Segurança e Reinserção de Assassinos em Série, situada em Lisboa. Pelo nome da instituição percebe-se que é uma tentativa de curar o possível transtorno psicológico que leva estes assassinos a matarem.

O programa prevê isolamento da sociedade (como qualquer presídio), convívio forçado entre os “pacientes”, sessões de psicoterapia individual e em grupo.

Na realidade este é apenas um meio que autora encontrou de colocar todos juntos, e uma vez juntos, Valentina começa em flash back traçar o perfil de cada um deles (três homens e duas mulheres). É aí que reside a maior habilidade da autora. Primeiro os coloca como pessoas comuns e pouco a pouco nos introduz a seu drama pessoal e finalmente a seus crimes. Com um texto belíssimo, mesmo nas passagens mais chocantes, ela nos conduz a uma relação de amor e ódio a seus personagens. Destaque para Luke, o assassino pedófilo e Suzana, que odeia homens separados e com filhos com quem se relaciona. Temos a sensação de que podemos encontrá-los a qualquer momento entre as pessoas que nos são próximas.

Uma vez traçado o perfil ela nos mostra o relacionamento tenso entre os pacientes e a equipe médica e por fim aparece a Morte. Inicialmente como se fosse a culpa de cada um se manifestando e depois como alguém palpável, capaz de matar.

Aqui ela se aproxima do “enigma de quarto fechado”, onde pessoas estão isoladas e sabe-se que é alguém de dentro que está causando o problema. O exemplo mais clássico é O caso dos dez negrinhos, de Agatha Christie (há uma tradução recente: E não sobrou nenhum, da Editora Globo, “politicamente correta” – não tem “negrinhos”).

A autora parece conhecer muito bem dois aspectos essenciais para conduzir a trama: o transtorno de personalidade antissocial (psicopatia ou sociopatia), e a parte jurídica (que é usada para estruturar o romance).

Atenção! Spoiler

Há algumas falhas, que todavia não comprometem o livro como um todo.

A mansão que serve de hospital, o estereótipo de várias histórias similares, me pareceu inadequada para reunir criminosos capazes de matar por causa de um palito de sorvete. A segurança é muito baixa.

O personagem que encarna a Morte não surge no início da trama, embora seja corretamente contextualizado mais ou menos no meio do romance. Isso frustra leitores habituais de livros de mistério, em especial fãs de “enigma de quarto fechado”, onde o “culpado” é um dos personagens já foi apresentado logo no começo.

Mas, a meu ver, a intenção da autora não é construir um bom thriller de mistério, mas um bom terror psicológico, onde ela se sai muito bem.

Destaque para a capa, projeto gráfico e diagramação. A Estronho, como sempre, tem muito bom gosto nestes quesitos.

Conclusão

Um bom terror psicológico, com dose certa de suspense e muito bem escrito, com uma linguagem poética mesmo nos trechos mais crus. 

Nerd Shop:

A Morte é uma seria killer. Valentina Silva Ferreira. Editora Estronho.

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