segunda-feira, 22 de agosto de 2011

A Fantástica Literatura Queer – Volume Vermelho



Fantástica Literatura Queer – Volume Vermelho
Organizadores: Rober Pinheiro, Cristina Lasaitis
Autores: Alliah, Camila Fernandes, Cesar Sinicio Marques, Rogério Paulo Vieira, Mônica Malheiros, Laura Valença Guerra, Cristina Lasaitis. Prefácio: Luiz Mott.
Ano: 2011
176 páginas


Sinopse: Coletânea de contos tendo por diretriz a diversidade tanto de estilos, gêneros (fantasia, horror e ficção científica) e sexualidade.

Rober Pinheiro e Cristina Lasaitis quando se lançaram nesta empreitada propuseram um trabalho sério, onde o quesito principal deveria ser a qualidade dos textos.  Limitaram um contorno onde a diversidade sexual deveria estar em pauta, como tema ou pelo menos cenário. Não restringiram a participação dos autores ao meio LGTB, mas colocaram limitantes no sentido de excluir qualquer texto com manifestação de homofobia ou de sexismo.

O resultado tanto da quantidade de textos participantes (que demandou uma maratona de leitura dos organizadores), que acabou gerando dois volumes (este, vermelho e outro, laranja) como da qualidade (que pude observar neste volume) foram surpreendentes.

Tanto a capa (fotografia de Katrina Brown) como o projeto gráfico (de Richard Diegues) foram primorosos.

Cada um dos contos é finalizado com um comentário do autor ou de um dos organizadores onde se contam suas motivações na feitura do texto. Isso dá algumas informações extras que permitem ao leitor sentir um pouco quem é aquela pessoa que escreveu aquele conto.

Fechando o volume há uma pequena biografia de cada um.

Uma grande sacada a é a ausência de índice.

Morgana Menphis contra a Irmandade Gravibramânica - Alliah

De longe o texto mais divertido da coletânea. Morgana Mephis é uma cantora pop que entra numa batalha contra uma tentativa de genocídio de uma raça alienígena que optou por adquirir de forma artificial sua sexualidade, inexistente no seu planeta de origem. A autora optou por levar tudo ao extremo, tanto a diversidade sexual como as reações homofóbicas em especial as pautadas em convicções religiosas ou políticas. Isso torna o conto extremamente movimentado e, em alguns momentos, carregados de um humor cáustico. Tanto Morgana como sua companheira Amadahy são duas heroínas excelentes. O conto da vontade de ler mais coisas da autora, em especial se tiverem pelo menos uma das duas em ação.

É foda existir – Camila Fernandes

Num texto belíssimo, uma pessoa conta seu amor por outra. Tanto o gênero como a orientação sexual delas vão surgindo lentamente e o desenrolar do final também. Esta forma poética de narrar é o grande destaque do conto.

Eu tenho um disco voador na garagem – Cesar Sinício Marques

Este é um conto que trata da descoberta da homossexualidade por dois jovens, que tem que lidar com as próprias incertezas. Tão imponderáveis quanto à possibilidade da existência ou não de vida em outro planeta. Perfeito, desde o título.

Alternativa A – Rogério Paulo Vieira

Diante de um desastre, a comandante de uma nave tem que tomar uma decisão. Optará por uma decisão racional esquecendo seus sentimentos? O que é uma decisão “racional”? O conto discute a racionalização do ato de esconder a orientação sexual em função da sociedade.

Distúrbia – Monica Malheiros

Um jogador perde algo muito importante em um jogo. Um conto que mistura horror com erotismo e coloca a questão das relações onde há submissão. Quem realmente está no controle?

Eros – Laura Valência Guerra

Um jovem às voltas com sua orientação sexual recebe a visita de um anjo. O conto procura deslindar os meandros da mente em dúvida do jovem, o anjo simbolizando a sua redenção diante de si mesmo. Muito bom!

Sal e Fogo – Cristina Lasaitis

A relação tumultuda de amor e ódio entre duas irmãs. O conflito entre as duas tem como panorama um conflito maior entre o Deus e a Deusa. Entre o socialmente aceito e o comportamento incestuoso das duas. E finalmente, entre o sagrado e o profano, em uma falsa dicotomia. Prosa poética de primeira, mesmo quando a protagonista-narradora despeja seu ódio verborragicamente.



sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Cursed City - Horror e mistério numa cidade do Velho Oeste

Cursed City
Onde as almas não têm valor
Autores: M. D. Amado (org.), Alfer Medeiros, Ghad Arddhu, Carolina Mancini, Cirilo S. Lemos, André Bozzetto Jr., Alliah, Georgette Silen, Verônica Freitas, Tânia Souza, Romeu Martins, Valentina Silva Ferreira, Jota Marques, Ana Cristina Rodrigues, Chico Pascoal, Davi M. Gonzales, Yvis Tomazini, Lucas Rocha,  Zenon. Prefácio: Adriano Siqueira.  
Editora: Estronho
Ano: 2011
236 páginas

Sinopse: A partir de um cenário previamente escolhido e de uma temática que mistura western com terror e horror, vários autores atenderam ao desafio proposto por M. D. Amado. Cursed City, a outrora próspera Golden Valley, é uma cidade onde até o mais valente dos pistoleiros teme sair a noite, pois enfrentará a morte certa e cruel. São sugeridos alguns personagens, como Billy Monstrengo, o dono do Saloon e o apache Hodoken e fixado um período: entre 1845 e 1870.

Impressão geral:

Por reunir autores em vários momentos de suas carreiras, alguns iniciantes outros bem experientes, o resultado é um pouco irregular. Todavia alguns autores iniciantes tiveram boas sacadas e souberam desenvolver bem suas ideias.

Merece destaque a capa (furada “à bala”) e os cartazes de “procura-se” que identificam os autores.

Vamos dar uma olhada em cada um dos contos, procurando ser sincero sem desestimular os autores novatos, já que todos têm o mérito de aceitar um desafio desta monta e se posicionaram na rua principal ao entardecer para um duelo com a crítica.

O gigante, a curandeira e a lutadora de Kung-Fu - Alfer Medeiros

O pensamento que parece ter norteado Alfer Medeiros foi: “já que é pra misturar, então que se misture!” E até que a salada mista fluiu bem!

Oricvolver - Ghad Arddhu

Por outro lado, este conto tem alguns problemas de fluidez. O texto parece truncado e fragmentado. Alguns trechos podem melhorar se for dada a devida atenção à pontuação. Outros precisam de uma revisão mais refinada. Sugiro a Ghad Arddu uma releitura tentando se por no lugar do leitor. Ou talvez pedir a um leitor beta, com sinceridade suficiente para apontar falhas de forma objetiva.

Número 37 - Carolina Mancini

Uma mulher caçadora de recompensas chega à cidade. Enfrentará mais do que algum fora da lei.  Uma personagem feminina num universo masculino que chama a atenção dos homens de Cursed City, habituados a vê-las como prostitutas ou vítimas. Uma supresa os aguardará... e também aos leitores

Por um punhado de almas - Cirilo S. Lemos

Este conto retrata muito bem o espírito que norteou a coletânea. Uma boa mistura dos gêneros, desde o título. Excelente!

A balada do coyote - André Bozzetto Jr.

Um pistoleiro famoso é contratado para enfrentar um bando. Quando ele chega mais parece um músico covarde que alguém capaz de fazer mal a uma mosca. O que destaca o conto são suas referencias anacrônicas a músicas dos anos 70, cantadas pelo pretenso pistoleiro.

Just like Jesse James – Alliah

Outra mulher enfrentando um mundo masculino. Final digno de uma boa história de terror.

A mão esquerda da morte - Georgette Silen

Este conto parte de uma boa ideia, porém não totalmente aproveitada. A autora optou por trazer elementos do steampunk, entre eles uma arma poderosa, que acaba ofuscando justamente a mão esquerda da morte, que, no fundo, revela ter um poder pífio. A mão esquerda da morte deveria ser a estrela e não coadjuvante. Apesar deste defeito, o conto tem um bom desenvolvimento e diverte.

Deixe-me entrar - Verônica Freitas

Uma moça abandonada à própria sorte busca sua vingança. Uma boa história de terror.

Demônios da escuridão - Tânia Souza

Outra bem construída história de vingança.

Domingo, sangrento domingo - Romeu Martins

Uma criatura aprisionada busca seu caçador.  O autor busca contar isto de forma original, revertendo algumas expectativas.

Nem sempre a fé te salvará - M. D. Amado

“Quanto mais eu rezo, mais assombração aparece”. Um bom enredo.

Sally - Valentina Silva Ferreira

A autora é portuguesa e seu texto ás vezes causa a impressão de que é formal demais, sobretudo nos diálogos. O conto tem uma boa premissa e se desenvolve bem.

As desventuras do pequeno Roy - Jota Marques

Roy é um menino que sonha ser um pistoleiro, com o intuito de minimizar o trabalho de sua mãe no saloon. Mas algo está prestes a acontecer. A história tem um bom desenvolvimento e, principalmente um bom final.

Aquele que vendia vidas - Ana Cristina Rodrigues

Um mercador de escravos chega a Cursed City e é passado para trás por um rancheiro. Buscará vingança. Um texto bem escrito.

Duas lendas - Chico Pascoal

Um juiz enforcador chega a Cursed City. É preciso arrumar um “culpado” para que haja pelo menos um enforcamento. A história está bem escrita, mas com um pequeno deslize do autor. Ele nomeia um dos personagens como “o homem mais rico da cidade” e repete este epíteto toda vez que este personagem aparece, sublinhando em itálico. Seria mais interessante dar um nome, ou um cargo ou ambos e ir alternando. Temos um estereótipo (um dos vilões é o homem mais rico da cidade) e não precisamos sublinhar isso. O texto merecia um revisão para contornar este deslize, caso o conto venha a ser publicado novamente.

Ainda dói? - Davi M. Gonzales

Um homem com dor de dentes encontra alguém que se dispõe a arrancá-lo. O dentista improvisado conta histórias macabras para distrair o “cliente” enquanto prossegue com o “tratamento” dentário.

Spoiler:
A história é boa, mas convém levantar um ponto. O enredo está baseado em alienígenas. Tudo bem, porém os envolvidos, supostamente cowboys iletrados, usam o termo alienígena e tratam do tema como se isso fosse parte pelo menos do seu contexto imaginário, o que quebra verossimilhança (H. G. Wells colocará os alienígenas na imaginação popular apenas em 1898). E o autor perde a chance de tornar a história mais interessante: os cowboys não sabem o que são alienígenas, mas o leitor sabe. Em vez de usar a palavra alienígenas, por que não usar descrições toscas que levem o leitor a deduzir isto?

Só o dinheiro dos mortos - Yvis Tomazini

Um roubo a um banco. Normal, não fosse em Cursed City. Bom texto com algumas ideias interessantes. O final é um pouco atropelado. Poderia ser um pouquinho mais fluido.

O fantasma de Fraklin Stuart - Lucas Rocha

Um fantasma atormenta seu algoz. Bem escrita.

Descanse em paz - Zenon

Um homem desmemoriado chega a Cursed City. Coisas extraordinárias estão em seu passado. Uma bem conduzida história de mistério. O final surpresa valoriza o texto.

Sombras - Marcel Breton

Encerrando a coletânea, este conto se propõe a, justamente, dar um final para o livro, se bem que aberto. O apache Hodoken, em sua velhice, conta um episódio que dá uma explicação para pelo menos alguns dos fenômenos que ocorreram na cidade amaldiçoada.

Um bom texto para fechar a coletânea. Serviu também para dar mais profundidade a  Hodoken, arredondando o personagem.

O conto está em primeira pessoa, e dito de forma a denunciar a pouca familiaridade do índio com o idioma, porém está bem escrito demais para alguém nestas condições. Esta é a única falha, que poderia ser contornada com o índio falando com alguém que reproduz suas palavras de forma mais organizada ou o índio se revelando como alguém mais letrado do que fazia as pessoas suporem.




domingo, 7 de agosto de 2011

Capitão América – O Primeiro Vingador

Título Original: Captain America: The First Avenger (2011)
Diretor: Joe Johnston
Roteiro: Christopher Markus, Stephen McFeely
Baseado nos Quadrinos de Joe Simon e Jack Kirby
Produção: EUA
Elenco: Chris Evans, Hayley Atwell, Sebastian Stan, Tommy Lee Jones, Hugo Weaving, Dominic Cooper , Richard Armitage, Stanley Tucci, Samuel L. Jackson, Toby Jones

Sinopse: Durante a segunda guerra, o jovem Steve Rogers deseja se alistar, porém é fisicamente incapaz. Um cientista envolvido com um programa de desenvolvimento de uma raça de supersoldados, vê uma oportunidade de testar sua droga. Rogers seria o primeiro de uma série, porém o cientista é assassinado, o programa é abortado e Rogers é colocado em segundo plano. As coisas mudam quando seu pelotão de origem é aprisionado. Rogers assume então a identidade do Capitão América.

Esse basicamente é o mesmo enredo recontado inúmeras vezes nas HQs da Marvel desde o surgimento do herói em 1941, como parte do esforço de guerra Norte Americano. Há algumas coisas a se observar: o discurso da raça de supersoldados emula o discurso nazista. O Capitão América segue o modelo do herói americano típico, com algumas de suas características amplificadas devido ao conflito: patriotismo exagerado e cego e resolve tudo praticamente sozinho (se bem que neste filme ele monta uma equipe de comandos "politicamente correta" onde inclui um negro e até um improvável japonês, dado o contexto da guerra). Para poder curtir o filme, estes fatos tem que ser ignorados, pelo menos até o final dos créditos.

Quando eu lia as HQs da Marvel nos anos 60, eu não gostava muito do Capitão América justamente pelos pontos apresentados. Eu o chamava de Capitão Reacionário. Continuo achando isso, embora tenha gostado do filme.

O enredo é o esperado, já que o filme foi feito para não desapontar os fãs. O ator que interpreta Rogers/Capitão América o faz de forma caricata, tornando bastante divertidas as situações do jovem soldado Rogers e as inseguranças pessoais do Capitão América.

Um ponto a observar é a estética retrofuturista, que poderia colocar o filme como “dieselpunk”, com artefatos desenvolvidos pelos nazistas que agregam muito mais tecnologia do que realmente existia na época. Às vezes tem-se a impressão que estamos assistindo uma longa propaganda de brinquedos, que certamente serão disponibilizados para compra em breve.

O título por outro lado remete ao próximo filme: Os Vingadores. O objetivo foi apenas contextualizar o Capitão América dentro da realidade dos Vingadores.

Em resumo: se você gosta um do Capitão América, vá ver o filme. Se gosta de HQs em especial da Marvel, também. Mas é bom estar atento para dar algum "desconto" para as patriotadas e estereótipos. Um filme mediano.