segunda-feira, 28 de março de 2011

O Peregrino - Um Western New Weird

O Peregrino - Em busca das Crianças Perdidas
Autor: Tibor Moricz
Editora: Draco
Ano: 2011
196 páginas

Sinopse: Um homem acorda numa caverna desmemoriado, com cabelos e unhas muito grandes, praticamente nu, com apenas uma arma. Decidido a descobrir quem era, sai da caverna. No seu caminho, em busca de um lugar para se abrigar, mata um homem, rouba seu cavalo e suas roupas e encontra uma cidade chamada de Downton. Nesta cidade, por suas atitudes destemidas, é confundido com um messias há muito esperado: o Peregrino.

Pela ambientação inicial sabemos que estamos no Oeste americano e percebemos de cara alguns elemento do gênero Western. Um pistoleiro solitário chega a uma cidadezinha. É recebido com indiferença ou desprezo, mas logo se tornará o pivô da libertação ou vingança que esta cidade precisa.

Estaríamos diante de um enredo padrão? Logo percebemos que não. O pistoleiro não erra tiro e sua pistola não descarrega nunca. Isso seria clichê dos werstern, mas logo somos confrontados com a possibilidade da arma ser extraordinária, pois o pistoleiro percebe que a arma realmente não se descarrega ou se carrega sozinha. Algumas das vítimas são meio máquinas revelando além de sangue, óleo e engrenagens, ao serem atingidas. Um romance steampunk?

Ainda não acertamos o gênero. Um dos lugares por onde passa chama-se A Garganta do Enlouquecido, um lugar onde por mais que você caminhe, por qualquer caminho que escolha, volta sempre ao mesmo ponto.

A partir daí podemos esperar qualquer coisa. A busca do Peregrino caminha de braços dados com o absurdo, num clima bastante surreal, lembrando O Terceiro Tira.

Essa mistura de gêneros é o que se convencionou chamar de New Weird, cuja proposta é realmente romper com os limites claustrofóbicos entre os gêneros Ficção Científica, Horror e Fantasia e outros, como western, erótico e policial. A busca é apresentar algo novo a partir justamente desta mistura de gêneros.

Todavia o gênero dominante em O Peregrino é o werstern, com duelos, xerifes bem ou mal intencionados, jogos de cartas, saloons e tiroteios.

O clima lembra os filmes de Sérgio Leone: solar, lento e causticante, mas que, de repente, explode em violência, centrado num personagem de quem desconhecemos as reais motivações, mas que é a única esperança de um vilarejo.

O ritmo propositadamente lento, solar e causticante lembra
os filmes de Sérgio Leone
(foto: Clint Eastwood em "Era uma vez no Oeste" - divulgação)



Porém o absurdo vai se insinuando a cada passo do personagem, começando pela ausência de jovens e crianças em Downtown, com exceção de John Doe, um menino de cerca de 12 anos, o único que duvida das intenções do Peregrino.

Os feitos do forasteiro levam a cidade a aderir a ele em busca justamente das crianças e jovens desaparecidos, montando um grupo que o acompanhará em sua jornada para o resgate das crianças, primeiro a Middletown, cidade progressista e gananciosa, depois a Uptown, suspeita de ser a origem da opressão. Nesta busca, as reais motivações do Peregrino pouco a pouco vão sendo mostradas.

O desfecho, embora lentamente preparado ao longo da narrativa, é inesperado para maioria dos leitores, o que dá um sabor maior à leitura.

sábado, 26 de março de 2011

Selado e pronto para envio


Recebi este selo do meu amigo Cesar Silva do blogue Mensagens do Hiperespaço. Trata-se de um selo onde blogueiros recomendam outros, atestando as qualidades dos blogues que o receberem.

Para poder colocar o selo, além da indicação, existe duas regras. A primeira delas é responder a este questionário:

Nome: 
Álvaro Domingues
Uma música: "Echoes", do Pink Floyd. Esta música é fantástica em todos os sentidos da palavra
Humor: Instável, com chuvas e trovoadas, mas com sol logo a seguir.
Uma cor: Vermelho
Estação: Primavera
Como prefiro viajar: Confortavelmente sentado.
Um lugar: Grécia
Um filme: Blade Runner
Um livro: Sombras e Sonhos
Um prazer: Escrever
Time do coração: São Paulo.
Frase mais usada: Ninguém em seu juízo perfeito viria aqui numa hora destas.
Porque tem um blogue: Para divulgar a FC&F.
Sobre o que escreve: Contos, poemas, crônicas e resenhas de literatura e cinema de Fantasia, Horror e Ficção Científica.
Escreva a primeira coisa que vier a cabeça: O ser é, e o não-ser não é.
O que achou do selo: É como se fosse a apresentação de um amigo a outros amigos.


A segunda regra é repassar este selo a pelo menos um outro blogueiro.


Segue uma lista dos blogueiros a quem enviarei


Phases da Lua
Tábua de Marés
Domínio Público
Flor de Gelo
Adorável Noite


Colegas, sintam-se livres para usar ou não o selo.




quinta-feira, 17 de março de 2011

Anjo de Dor


Anjo de Dor
Autor: Roberto de Sousa Causo
Editora: Devir – selo Pentagrama
Ano: 2009
212 páginas

Sinopse: Ricardo é o barman de uma boate em Sumaré, no início dos anos 90 (referências ao plano Color, programas de televisão, filmes de cinema e marcas de carro dão a pista) e tem que recepcionar uma cantora, Sheila, vinda de São Paulo. O primeiro contato entre não é muito promissor, estabelecendo-se um conflito entre eles, apesar da atração mútua. Isso poderia ser o início de uma história típica de romances femininos de banca de jornal, porém, pouco a pouco se insinua um outro enredo, mais forte, envolvendo o sobrenatural e o passado sombrio de Sheila.

Quando pegamos o livro de Causo nas mãos, sabemos que é um livro de terror. Começamos a leitura, esperando pelo susto, que não vem num primeiro momento. Causo na realidade está construindo o cenário, os personagens, mostrando pontos fortes e fracos de cada um e introduz o mistério em conta gotas, para no momento oportuno, fazer explodir o insólito.

Parte da trama está em construir um mistério em torno da cantora que chega pelas mãos de Lauro, dono da casa noturna Flick. Dona de uma voz excepcional e uma capacidade interpretativa para canções sensuais ótima, porém com alguma coisa grande e provavelmente podre, escondida no seu passado. Também Ricardo, o barman, esconde por trás de uma aparência serena, um homem de “pavio curto” capaz de reações violentas quando se vê ameaçado.

Anjo de Dor nos apresenta ao longo da narrativa uma discussão em torno do que seria o mal. Um espectro fantasmagórico ou a violência urbana, praticada por seres humanos nas noites de uma cidade grande?

Causo nos conta este história sabendo dosar muito bem mistério, suspense, horror, erotismo e aventura, conduzindo a um desfecho congruente com a narrativa. A batalha final num moinho abandonado é muito bem escrita, colocando o leitor no centro da ação.

Recomendo.

terça-feira, 8 de março de 2011

Meninas, o que a mídia tem lhes ensinado?

No dia internacional da mulher, um alerta do Pai Nerd às meninas que estão em busca de uma beleza que não existe.


Leia mais no blog Terapia em dia

sexta-feira, 4 de março de 2011

A Corrente – passe adiante


Autor: Estevão Ribeiro
Editora:  Draco
Ano: 2010
184 páginas

Sinopse:  Roberto é um hacker que , por brincadeira, resolve passar uma corrente das muitas que recebe em sua caixa de correio. As coisas se complicam quando uma a uma as pessoas que a receberam vão morrendo de forma assustadora.

Estevão Ribeiro, conhecido pelos seus quadrinhos em especial Pequenos Heróis e Os Passarinhos, estreia na literatura de horror com este romance.

Estevão Ribeiro soube manejar muito bem alguns dos conceitos do gênero. Primeiro, a escolha do plot: uma corrente vinda pela internet. A atitude de deletar sem ler correntes é bastante comum. Quantas vezes você não fez isso? A corrente como objeto de gerar a trama é uma boa escolha porque é simples e tem uma possibilidade mágica de exploração: a maioria delas promete mundos e fundos quando repassada ou desastres, se não (doces ou maldições?).

O segundo conceito é que os personagens são pessoas comuns em situações incomuns. Não nenhum herói, nem milionários excêntricos.  As pessoas têm qualidades e defeitos comuns.

E o terceiro, o suspense, sobretudo no final. Aliás, o suspense é o melhor mérito da obra. O leitor consegue se identificar com a trajetória de Roberto, torcendo por ele até o desfecho final . Há mistério também, sobretudo para se descobrir a causa do ódio da entidade que está por trás dos assassinatos.

Quanto ao mistério, Estevão trabalha bem, dosando adequadamente o que esconder dos leitores, se bem que às vezes solte alguma informação antecipada de forma muito clara, outras, segura as informações e as solta todas juntas. Mas isso não compromete a trama. A solução encontrada para resolver a questão da corrente é bem sacada: coerente, consistente e lógica, mas não óbvia.

Apesar disso o livro não chegou a me “aterrorizar”. Há entidade sobrenaturais, a brutalidade dos crimes, mas não nos sentimos ameaçados, ainda que no estado de suspensão da crença . Por isso, talvez, Estevão (ou a Draco) o classificou como thriller, um gênero que conjuga  suspense , mistério, ação e eventualmente terror ou horror. A impressão que tive foi que os outros elementos são mais importantes para Estevão do que o susto. Isso não desmerece o livro, já que me parece ser a proposta do autor.

Um livro bastante divertido e interessante.